sábado, 27 de junho de 2020

novo normal e o escuro da mente

Passando pelo corredor eu ouço um barulho estranho no quarto. Suponho que a janela esteja aberta e que o vento esteja balançando a cortina blecaute que bate na parede e faz o tal barulho. Ou tomara que seja a chuva, penso eu. Faz tempo que ela não cai por aqui. É algo distante da realidade agora e que parece se encontrar somente na lembrança de um antigo mundo. Um fenômeno tão natural e corriqueiro transformado num evento exótico. Uma cidade que já foi apelidada com o prefixo chuva à frente do seu nome. Agora somente o ar é que é tóxico, com suas estéreis nuvens de carbono sobre a terra árida de asfalto, concreto e aço. O ar seco e sufocante me faz pensar se dou risada da esperança ou se me agarro de vez à ela. Mas não foi o ceticismo que nos trouxe até aqui? Para esta cidade esplêndida que não merece nem mais chuva antes do seu nome?

Nos trouxe é para este instante moldando um novo normal que transforma, ao olharmos pela janela do tempo, os fenômenos corriqueiros do passado numa pintura exótica e antiquada de um lugar longínquo no fundo das nossas mentes. Também um novo normal que transforma o futuro em algo nebuloso e cheio de buracos. E quem nos dera um buraco de minhoca neste momento, não é mesmo. Uma fuga pelo espaço-tempo alternativo de um futuro possível. Para escaparmos da seca e da fome, das dúvidas e do ódio, das paixões e dos apagões. Fugir da realidade que criamos. Do desastre anunciado. Então a corrida interplanetária afinal se fazendo necessária para quem pode. Mais uma vez a busca por novos mundos para colonizar e expandir nossas fronteiras de destruição e doença, já que por aqui a vida se esgotou. Só vão sobrar os indesejáveis mesmo. Lixo.

Por fim, percebo que a janela estava fechada e nenhum vento de fato entrava fazendo a cortina bater na parede do quarto. Era a chuva, finalmente! Eu só havia perdido o costume de ouvi-la batendo no plástico que remenda o vidro quebrado da janela.

Então eu saio do quarto. Fecho a porta e volto ao corredor agora totalmente escuro. Caminho tateando a parede em direção à porta de saída e derrubo sem querer todos os quadros e retratos pendurados. No final do corredor a porta está trancada. Volto cambaleando sem conseguir enxergar nem escutar mais nada. Silêncio e escuridão. Os cacos no chão ferem os meus pés. Quero voltar para o quarto ouvir a chuva e tentar vislumbrar algo lá fora. Mas não há mais porta de volta (nunca houve?). No lugar, apenas a parede fria e lisa deste corredor escuro que gela minhas mãos e pensamentos.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

verme

O verme passeia na lua cheia procurando por comida para se resguardar da seca que chegará em breve. Mesmo sem olhos, se orienta pelo luar de uma noite iluminada, seguindo a orientação sublime de uma lógica sobrenatural para os limitados olhos humanos que nunca entenderam o que não veem. Passado e futuro se confundem misturados no presente.

Seu lar pode estar longe e seu desejo por viver o faz não desistir no frio da solidão. Mas ele ainda tem a Lua e seu brilho que reflete no solo devastado e transformado num cenário pós-humano. Permeando por entre o lixo tóxico de um mundo ultrapassado, procura por alimentos que um dia foram habitados por vidas em terra consumida. O ciclo universal que se repete como uma roda à caminho da luz que nunca se apagará. Essa é a esperança do verme que se alimenta dos mortos.


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INSPIRAÇÕES:

1. https://www.youtube.com/watch?v=M7kQbv4S8s8
2. https://outraspalavras.net/sem-categoria/os-ultra-ricos-preparam-um-mundo-pos-humano/
3. http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/567378-tecnologia-pode-criar-elite-de-super-humanos-e-massa-de-inuteis-diz-autor-de-best-seller
4. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575438-super-ricos-ficam-com-82-da-riqueza-gerada-no-mundo-em-2017-diz-estudo

terça-feira, 25 de junho de 2019

As Veias Abertas da América Latina


Um livro necessário para nos reconhecermos como latino-americanos, um povo multiétnico e rico por natureza. A América Latina é uma região que suporta séculos de exploração e derramamento de sangue de milhões dos seus habitantes (o maior genocídio da História foi o dos nossos indígenas) em nome do lucro de uma minoria. Mas o colonialismo permanece. Agora travestido de neoliberalismo, impondo seu controle econômico, político e social com a financeirização dos Estados, regido pelo Deus-Mercado como instrumento de dominação de interesses estrangeiros privados sobre as necessidades públicas nacionais. Destino cruel por termos uma herança que se tornou maldita: a riqueza natural das nossas terras e da nossa gente.

O saque que persiste desde o início ungido com o sacrifício do nosso povo: começou com o pau-brasil, passou pelo ouro, prata e estanho, e agora é a nossa mão de obra barata e ainda tantas outras riquezas naturais que sobraram. Nosso suor e sangue, assim como nossas terras, é investimento (estrangeiro) que se paga pouco e lucra muito. Até hoje nosso solo é destruído, nossa água contaminada e nossas matas devastadas, mantendo nosso presente e futuro engaiolados para sempre como eternos exportadores de commodities, o "celeiro" de um mundo desigual que depende da pobreza da maioria para o desenvolvimento e concentração de riqueza de pouquíssimos. A teoria da dependência revelando as causas do subdesenvolvimento latino-americano – ver Celso Furtado, Theotônio dos Santos e Raúl Prebisch.

E não devemos nos iludir, os interesses externos é estarmos para sempre aprisionados nessa condição subserviente, pois servimos a eles e disso deriva suas riquezas. Por isso a urgência de uma insurreição em nome da nossa plena autonomia e soberania. Um ato de verdadeira independência.

Conhecermos a nós mesmos e a nossa história, nos dá capacidade de corrigirmos nossa direção e vislumbrar um futuro possível. Um resgate à nossa identidade; um chamado para nos unirmos em defesa dos nossos próprios interesses latino-americanos. Sem mais intervenções externas, nós mesmos trilhando nosso próprio caminho.


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REFERÊNCIAS:

Genocídio indígena
1. https://www.brasildefato.com.br/node/10307/
2. https://salacristinageo.blogspot.com/2011/05/genocidio-indigena-no-brasil.html
3. https://noticias.r7.com/prisma/nosso-mundo/brasil-e-lider-disparado-no-genocidio-de-indios-na-america-latina-24042018

Financeirização da economia
1. http://www.usp.br/agen/?p=88247
2. https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-dinheiro-e-a-financeirizacao-da-economia-mundial/4/31520
3. http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n6/v12n6a09.pdf
4. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142017000100029
5. https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/financeiriza%C3%A7%C3%A3o
6. http://www.vermelho.org.br/noticia/26588-1
7. http://jornalismojunior.com.br/voce-sabe-o-que-e-o-processo-de-financeirizacao-da-economia/

Teoria da dependência
1. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141999000100018
2. https://revistapesquisa.fapesp.br/2018/08/20/teorias-para-o-desenvolvimento/
3. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1703200114.htm
4. https://movimentorevista.com.br/2018/02/a-teoria-da-dependencia-balancos-e-perspectivas-capitulo-ii/

Resenhas
1. http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-veias-abertas-da-america-latina-eduardo-galeano/
2. http://www.aescotilha.com.br/literatura/ponto-virgula/as-veias-abertas-da-america-latina-eduardo-galeano-resenha/
3. http://www.klepsidra.net/klepsidra5/america.html

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TRECHOS DO LIVRO:

"A divisão internacional do trabalho significa que alguns países se especializam em ganhar e outros em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se aventuraram pelos mares e lhe cravaram os dentes na garganta. Passaram-se os séculos e a América Latina aprimorou suas funções. Ela já não é o reino das maravilhas em que a realidade superava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus da conquista, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como serviçal, continua existindo para satisfazer as necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, de cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que, consumindo-os, ganham muito mais do que ganha a América Latina ao produzi-los."
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"Quanto mais liberdade se concede aos negócios, mais cárceres precisam ser construídos para aqueles que padecem com os negócios. Nossos sistemas de inquisidores e verdugos não funcionam apenas para o mercado externo dominante, também proporcionam caudalosos mananciais de lucros que fluem dos empréstimos e dos investimentos estrangeiros nos mercados internos dominados."
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“Já se ouviu falar de concessões feitas pela América Latina para o capital estrangeiro, mas não de concessões feitas pelos Estados Unidos para o capital de outros países (...). É que nós não fazemos concessões”, advertia o presidente norte-americano Woodrow Wilson, por volta de 1913. Ele estava convicto: “Um país”, dizia, “é possuído e dominado pelo capital que nele foi investido.”
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"É a América Latina, a região das veias abertas. Do descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos."
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"Para os que concebem a História como uma contenda, o atraso e a miséria da América Latina não são outra coisa senão o resultado de seu fracasso. Perdemos; outros ganharam. Mas aqueles que ganharam só puderam ganhar porque perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já foi dito, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial."
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"O capitalismo central pode dar-se ao luxo de criar seus próprios mitos e acreditar neles, mas mitos não se comem, bem sabem os países pobres que constituem o vasto capitalismo periférico."
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"Em fins de 1970, entre os 280 milhões de latino-americanos há 50 milhões de desempregados ou subempregados e cerca de 100 milhões de analfabetos. A metade dos latino-americanos vive amontoada em casebres insalubres."
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"O sistema é muito racional do ponto de vista de seus donos estrangeiros e de nossa burguesia comissionista, que vendeu a alma ao Diabo por um preço que deixaria Fausto envergonhado. Mas o sistema é tão irracional para todos os outros que, quanto mais se desenvolve, mais aguça seus desequilíbrios e tensões, suas candentes contradições. Até a industrialização, dependente e tardia, que comodamente coexiste com o latifúndio e as estruturas da desigualdade, contribui para semear o desemprego, em vez de ajudar a resolvê-lo; alastra-se a pobreza e se concentra a riqueza."
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"120 milhões de crianças se agitam no centro dessa tormenta. A população da América Latina cresce como nenhuma outra, em meio século triplicou com sobras. A cada minuto morre uma criança de doença ou de fome."
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"O sistema não previu este pequeno incômodo: o que sobra é gente. E gente se reproduz. Fazse o amor com entusiasmo e sem precauções. Cada vez resta mais gente à beira do caminho, sem trabalho no campo, onde o latifúndio reina com suas gigantescas terras improdutivas, e sem trabalho na cidade, onde reinam as máquinas: o sistema vomita homens."
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"São secretas as matanças da miséria na América Latina. A cada ano, silenciosamente, sem estrépito algum, explodem três bombas de Hiroshima sobre esses povos que têm o costume de sofrer de boca calada."
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"Em Washington já se suspeita que os povos pobres não prefiram ser pobres. Mas não se pode querer o fim sem querer os meios: aqueles que negam a libertação da América Latina negam também nosso único renascimento possível, e de passagem absolvem as estruturas em vigência. Os jovens se multiplicam, levantam-se, escutam: o que lhes oferece a voz do sistema? O sistema se expressa numa linguagem surreal: propõe evitar os nascimentos nessas terras vazias, opina que faltam capitais em países onde os capitais estão sobrando e são desperdiçados, chama de ajuda a ortopedia deformante dos empréstimos e a drenagem de riquezas que os investimentos estrangeiros provocam, convoca os latifundiários para fazer a reforma agrária e a oligarquia para pôr em prática a justiça social. A luta de classes não existe – decreta-se –, sobretudo por culpa dos agentes forâneos que a incitam, mas em troca existem as classes sociais, e à opressão de umas pelas outras dá-se o nome de estilo ocidental de vida. As expedições criminosas dos marines têm por objetivo restabelecer a ordem e a paz social, e as ditaduras submissas a Washington fundam nos cárceres o estado de direito e proíbem as greves e aniquilam os sindicatos para proteger a liberdade de trabalho."
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"Tudo nos é proibido, exceto cruzar os braços? A pobreza não está escrita nas estrelas, o subdesenvolvimento não é fruto de um obscuro desígnio de Deus. Correm anos de revolução, tempos de redenção. As classes dominantes põem as barbas de molho e, ao mesmo tempo, anunciam o inferno para todos. Em certo sentido, a direita tem razão quando se identifica com a tranquilidade e com a ordem. A ordem é a diuturna humilhação das maiorias, mas sempre é uma ordem – a tranquilidade de que a injustiça siga sendo injusta e a fome faminta. "
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"A águia de bronze do Maine, derrubada no dia da vitória da revolução cubana, jaz agora abandonada, com as asas partidas, sob um portal do bairro velho de Havana. De Cuba em diante, outros países também iniciaram por distintas vias e distintos meios a experiência de mudança: a perpetuação da atual ordem de coisas é a perpetuação do crime."
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"Por isto neste livro, que quer oferecer uma história da rapinagem e, ao mesmo tempo, mostrar como funcionam os mecanismos atuais da espoliação, aparecem os conquistadores nas caravelas e, ali perto, os tecnocratas nos jatos, Hernán Cortez e os fuzileiros navais, os corregedores do reino e as missões do Fundo Monetário Internacional, os dividendos dos traficantes de escravos e os lucros da General Motors. Também os heróis derrotados e as revoluções de nossos dias, as infâmias e as esperanças mortas e ressurrectas: os sacrifícios fecundos."

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

roda cíclica

e eu obcecado ficava olhando no meu celular para saber da temperatura pois não confiava mais nas minhas próprias sensações, não sabia se o que eu sentia era real ou ilusório e até que ponto tudo era verdade. o limite entre insanidade e consciência estava misturado, envolto numa névoa de loucura e lucidez, assim como minha percepção do tempo e espaço que se alteravam, esticando-se e contraindo feito cordas, vento e fumaça. olhava as pessoas e não conseguia mais entender o jeito que era viver como elas que sabiam o que estava realmente acontecendo naquele instante, elas viviam o momento, eu vivia uma eternidade a cada dez minutos em que meu coração quase parava e minha mente se desprendia do meu ser. algumas vezes me sentia sublime por conseguir sair de mim, mas na maioria das vezes me causava aflição por ter vivido tanto tempo assim a flutuar, tempo que na minha cabeça era equivalente a várias vidas e mortes.

do calor extremo passava para um frio horripilante que me gelava a espinha ao pensar que nunca mais conseguiria sair desse sonho nebuloso. então dessas mortes momentâneas minha consciência ressurgia agora mais renovada e plena, como que despertada de um sonho leve, mas na verdade meu maior medo era de cair profundamente num sono sombrio e acordar em outro lugar. o eterno medo do desconhecido. o eterno medo de sair do controle.

e nisso acho que foi necessária uma força de vontade muito grande, um esforço mental constante que me compelia a fechar os olhos, descansar, e ao bloquear minha visão do real, ver imagens distorcidas dos fluidos do meu corpo, o sangue que pulsava, o ar que percorria e as células que trabalhavam seu trabalho incansável. eu me jogava para dentro de mim mesmo. e esse espaço era colorido e cheio de distorções com desenhos geométricos repetitivos que nunca paravam de se mexer num fluxo constante que pode-se chamar de vida circular. a roda cíclica de momentos eternos. como o percorrer da vida de um inseto que não sabe aonde vai chegar e que talvez sempre volte para o mesmo lugar.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Nosso ser é um apanhado de pequenas almas estilhaçadas, incompletas e tortas buscando algum sentido. Se houver.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Birthday ride, lifetime ride

Tomorrow is my birthday. And to celebrate my 28 years old, today I rode 128 kilometers for almost 5 hours on my bike, alone. Actually, I had planned to ride more (150 km), but the life experience learned me that each day has a different limit, and sometimes you have to respect that.
When you are in a long ride, many situations happen, and many feelings invade you: laziness, hope, cold, hot, thirsty, hungry, satisfaction, exhaustion, confusion, happiness… Sometimes all in the same time. I like to think of that as a metaphor of our lives with its differents moments: wind, fog, sun, rain, curves, climbs, downs…
I rode to many roads, far away from everything, far away from the urban chaos. Out of the city fortress with its silly life and pollution. I can’t explain my great satisfaction of go away and breath some fresh air and enjoy the green scenario. The nature doesn’t judge you. That’s why I gave that gift to me.
Those hours alone and far away, give you much time to think. And in moments like that I always have many, MANY thoughts (even when I try to stop thinking, my mind doesn’t give me peace). But, some thoughts make me happy.
One of those reflexions, it’s the ideia of making a parallel between ride a bike and our lifetime. Because when you are riding, of course you have as objective ride some kilometers or go to somewhere. But the finish line it’s not the only thing you care. However, more important, it’s the way you go there (for example, you could go by bus or car, but prefer to go by bike, because of the experience that way will gives to you). And in our lives, sometimes, we ignore the path and all other things around us and care only about our final objectives (professional success, money, marriage, children, house, posses, recognition, books, drugs, sex, luxury, trips…). But, if we only focus on the objectives, we forget to see the beauty of each moment right here right now! Therefore, we must enjoy the paths of our lives as in a bike ride! So, slow down, live each moment and try to absorb every good energy it gives to you. Don’t wait to enjoy your life only after you reach all your goals. Because can be too late.
So… back to my today’s ride.
As I said, I was riding alone. But, even when you think you are indeed alone and don’t need anyone, things happen to make you fall from your selfish.
In the middle of the ride, I had problems with the bar of my bicycle. So, I had to stop and adjust some pieces to try to fix it. But I was with difficulties and almost giving up. Then, a simple man named Claudinei, appearing 50 years old, stopped his car and went to help me. After some minutes and tries, we found the problem and solved it together. That’s can be another metaphor of our lives. Sometimes we need help. And it’s ok. One day you receive help, another day you give help for your family, friends, or even to an unkonwn. That’s life. We are not alone, never. So we should share our experiences, feelings and paths.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

corpo máquina

eu já me sujei com graxa muitas vezes para agora poder estar aqui deslizando pelo asfalto. pernas motor de impulso fazem meus pés girarem a 12 centímetros do chão. a engrenagem roda. a máquina nunca quer parar. homem máquina na sua mais perfeita sintonia simbiótica. ajustes finos a transformam na extensão de um corpo em movimento constante e sincronizado. coração bate forte. pernas queimam. o vento sopra.

passar por latas invólucros de vidros escuros que protegem seres que nunca se arriscam em sentir o vento. proteção a todo custo contra um sistema perigoso. eu não. eu deslizo pelo asfalto e o som do vento é a canção que me falta quando passo o dia inteiro dentro de caixotes de concreto a olhar para a tela luminosa que reflete uma realidade intangível. estática zona de conforto em forma de trabalho alienado.

mas continuo me sujando. e o corpo a sangrar é o preço que se paga por estar vivo e ainda desfrutar de alguma liberdade de escolha. não quero ser igual vocês. e quem nunca se arriscou não sabe de todos os buracos do asfalto e não sabe que deslizar por ele também é cair de vez em quando. numa fração de segundo tudo pode mudar. é o risco que te acompanha a todo instante.

atingir o sublime estado de atenção plena ao manter meu corpo máquina numa operação contínua adiante. me faz respirar ar puro. girar. fazer a máquina acelerar. um vício sucessivo.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

seria a Esperança o Inferno dos Homens?
infrutífera
distorcida
confundida entre o real e o infinito

um sorriso sem maldade
você é quem vive
pra descobrir se isso vale

aquela palavra que gosta tanto
sem conseguir
alcançar sua importância

percepções que se confundem
sentimentos que se afogam
num devir que nunca chega
é esperança morta

deliberadamente abortada

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Busca ou loucura

É interessante como nossa busca por dar sentido às coisas, pode nos levar a formular teorias e percepções que beiram à loucura. Mas, por outro lado, foram os loucos do passado que mudaram o curso da História ao longo dos anos em que suas ideias não se encaixavam com a realidade da época. E que séculos depois puderam enfim serem reconhecidas e utilizadas. Pois, vejam só que loucura, a Terra girar em torno do Sol! 300 anos atrás, quem afirmasse isso era tido como demente, fora de si, herege, bruxa: digno de morrer na fogueira. E quantos não foram?

Então a linha que separa a ampla certeza da loucura é muito tênue. Para quem duvida.

E nossa eterna busca por tentarmos entender e dar sentido a tudo, nos levará à sabedoria universal ou à loucura niilista coletiva? Pois ao criarmos nosso mundo nesses moldes tão volúveis e líquidos, nossas concepções tornam-se descartáveis, os valores se perdem e nos tornamos subprodutos de algo que nem alcançamos mais – uma vida sem sentido afinal. É um salto para o nada, um precipício vazio de significado.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Após assistir Making a Murderer

Após terminar de assistir à série-documentário Making a Murderer, o sentimento é de ter levado um soco na boca do estômago. A mão pesada e inexorável do sistema. A autoridade do Estado com todo seu aparato para perpetuação do seu poder, custe o que custar. Manipulando cenários para que haja a aceitação geral de que se deve apenas encontrar um culpado, e não necessariamente a verdade sobre os fatos. A sensação de impotência, de fraqueza, de revolta e, principalmente, de injustiça. Aquela Justiça que deveria sempre ser cega e fiel à premissa de que qualquer cidadão é inocente até que se prove o contrário; e a mídia faz seu pérfido papel contra isso perpetuando diariamente sua narrativa pós-verdade, condenando pessoas antes mesmo delas merecerem algum tipo de julgamento legal - a opinião pública de espíritos fracos agradece o alimento-lixo fast food de manchetes baratas. Essa Justiça que, nas mãos de mal intencionados (e por aí tem muitos!), serve como instrumento para justificar e/ou ocultar atos hediondos de quem detém o poder. Instituições que buscam, antes de tudo, manter sua "reputação" imaculada para deixar as coisas como elas estão - a seu favor, é claro. E sim, é muita ingenuidade pedir para quem detém o poder para mudar o poder.
Infelizmente, só quando algo parecido acontece conosco ou alguém próximo é que de fato entendemos as falhas e a podridão desse sistema.
Making a Murderer nos faz sentir assim.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

É muito mais cômodo despejar nos outros a razão de todos os problemas do mundo. É menos trabalhoso ao intelecto também. Generalizar e se eximir da culpa, com a típica vida de pessoa de bem, de bons costumes, dos arrotos de demagogia barata nos almoços de família em volta do gado morto à mesa. Limitada visão e rasa análise sobre os fatos e sobre as pessoas. Destilando em vinho mórbido sua moral excludente. Tudo para conseguir deitar-se à noite com a cabeça no travesseiro crendo que fez seu bom papel para a sociedade e que nada manchará sua imagem de justiça seletiva e quase divina. Os céus o aguarda, com ruas de ouro pilhado das Américas, outrora a terra invadida infestada de seres descartáveis sem alma, sem pólvora e sem igreja.
O inferno são os outros, já era dito décadas atrás. Mas, no final, opositores e aliados compartilham do mesmo fogo que arde nossos corações, pela nossa pele, chama nosso ódio ou aquece nosso amor.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

um remédio
algo que me equilibre da corda bamba
vertigem nesse precipício aos meus pés
escuridão sempre a me chamar

um antídoto
para não mais passar o vírus que há em mim
algo que dê cor às minhas palavras ao vento
o céu sempre a me chamar

do céu ao inferno
de um segundo a outro
a me balançar
desequilibrar

cair

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

“O livre comércio, isto é, o livre monopólio, é a santa aliança dos grandes feudatários do capital e da indústria, a argamassa monstra que deve terminar em cada ponto do globo a obra começada pela divisão do trabalho, pelas máquinas, pela concorrência, pelo monopólio e pela política econômica; esmagar a pequena indústria e submeter definitivamente o proletariado. É a centralização em toda face da terra desse regime de espoliação e de miséria, produto espontâneo de uma civilização que começa, mas que deve perecer logo que a civilização tiver adquirido consciência de suas leis; é a propriedade em sua força e sua glória. E é para introduzir o consumo desse sistema que tantos milhões de trabalhadores estão famintos, tantas criaturas inocentes ainda amamentando atiradas no nada, tantas jovens e mulheres prostituídas, tantas almas vendidas, tantos caracteres emurchecidos! Se ao menos os economistas soubessem de uma saída para esse labirinto, de um fim para essa tortura. Mas não, sempre! Nunca! Como o relógio dos condenados, é um refrão do apocalipse econômico. Oh! Se os condenados pudessem queimar o inferno!”

— Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria - Proudhon

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

"
Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria.
A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista.

 
— O Povo Brasileiro, p.120 - Darcy Ribeiro.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Por um desses caminhos

Alguns absurdos pra contar, era o que ele tinha, era o que sempre quisera ter coragem de dizer. Sentir o que estava à sua volta e recriar seu universo em algo mesmo incompreensível, pois o que deseja parece não ser racional. Engana-se. Acostuma-se com o cotidiano. Quantos sonhos já desperdiçara por ele próprio não acreditá-los? Então os deixa voarem para o céu e se transformarem em estrelas, apenas pontos distantes de luz e energia - à noite a vislumbrar. Quem sabe alguém ainda chegue a viajar na velocidade da luz, muitas histórias vai encontrar por esses caminhos. No dia a dia, não. Cala-se. E na solidão revive situações. Pena que só para ele mesmo.

Foi então numa de suas caminhadas solitárias pela cidade que viu, ao longe, seu pai. Furtivo, não fez questão de se mostrar, apenas observá-lo comprando pães numa padaria qualquer. Fazia muitos anos que não o via e ainda não sabia se sentia ou não saudades. Mas ficou impressionado ao constatar que o velho não envelhecera quase nada desde a última vez que o vira. E ele, Rubian, já tão castigado pelo tempo...