sábado, 29 de maio de 2010

ANOTAÇÕES SOBRE "ANGÚSTIA", DE GRACILIANO RAMOS

Escrever sobre Angústia, de Graciliano Ramos, é tentar transcrever o quão importante tal obra foi para mim. Esse livro me foi um marco porque realmente foi ele que me fez abrir meus olhos para a literatura brasileira, que antes eu achava muito chata. Isso se deveu talvez pela falta de maturidade minha na época; pela obrigação imposta pela escola que tentava empurrar goela abaixo certos livros; ou também porque eu estava envolvido com a literatura estrangeira, como Agatha Christie, Tolkien e Sherlock Holmes.

Além da mudança de olhar sobre a literatura brasileira, Angústia me foi um divisor de águas também diante da forma de narrativa. Nos meus primeiros contatos com os livros, desde a infância, a maioria das histórias priorizavam as ações das personagens envolvidas ao invés de se aprofundar e saber dos porquês dos atos cometidos por elas. Salvo os livros da Agatha Christie onde, por exemplo, o detetive presente em vários de seus romances, Hercule Poirot, utilizava-se muitas vezes da psicologia para desvendar os crimes. Mas mesmo assim, não havia um mergulho na mente das personagens. Foi então que eu me vi, conforme lia Angústia, dentro da mente de Luis da Silva, personagem-narrador da história. Percebi essa outra vertente da literatura, desconhecida por mim até então, a narrativa subjetiva.

Eu me recordo de como foi o desenvolver da minha leitura de Angústia. Assimilava o estilo de escrita de Graciliano: pausado, períodos curtos, frases incisivas. Comecei devagar, lia todas as noites antes de dormir, porém avançava sempre poucas páginas. Depois embalei e as páginas fluíram num ritmo mais intenso. Talvez isso tenha me proporcionado uma melhor absorção daquele universo de Luis da Silva. Aos poucos me acostumava com o seu modo de vida pacato e seu jeito complexado de pensar.

Escritor numa repartição próxima sua casa, Luis da Silva morava praticamente sozinho, tinha como companhia apenas sua empregada, uma velha que passava os dias atarefada e distante do seu patrão. Embora sempre com visitas em casa, as quais se tornariam habituais e incomodas, era um ser solitário. Pois, tanto quanto as visitas, quanto o resto das pessoas, não lhe importavam muito. Irritava-se facilmente com elas. É aí que surge uma pessoa que muda sua vida: Marina. Apesar do alto teor romântico da última frase que escrevi, alerto: Não! Angústia não é piegas, pois o que mais está em jogo na narrativa não é o eventual amor que Luis nutre por Marina, e sim como ele pensa e reage quanto às desavenças que ocorrem.

Enfim, o livro discorre sobre os conflitos psicológicos vividos pela personagem-narrador Luis da Silva, onde se encontra Marina no centro de tudo isso. E nada melhor para se adentrar nos pensamentos de alguém se não for ele mesmo quem conta os fatos. Tudo sob seu ponto de vista. E você, leitor, fica preso aos seus olhos, que se tornam o fator principal da história.