terça-feira, 27 de julho de 2010

COMUNICAÇÃO E ENIGMAS: DECIFRA-ME

Por muitos anos fechara-se em si mesmo e ouvia somente as palavras que vinham do seu âmago. Assim, sua essência foi sendo preenchida por enigmas e segredos sobre si.
Então invocou um pensamento que o despertou e resgatou-o de seu abismo solitário. Supostamente, era um pensamento corajoso: “Só consegue quem tenta”. Porém, mais fácil do que o pôr em prática, era mantê-lo apenas na mente.
Mas hoje ele resolveu se impor e descobrir-se para o mundo: limpou sua mesa e se pôs a escrever. Sentou-se. De costas para a cama: hoje os sonhos vão esperar. “Agora eu quero o mundo como meu ouvinte”. Eis que todos ouçam o eco da sua alma através das suas palavras escritas.
Ele quer tentar, mas conseguir é outra história. Enquanto ainda mantém em mente o lema “só consegue quem tenta”, rabisca automaticamente na sua folha de papel “só tenta quem consegue”. Tudo errado! Embora suas palavras sejam o reflexo da sua alma carregada de mistérios, são justamente as palavras que traem sua intenção de se comunicar com o mundo.
Sua necessidade parece ter se transviado. Seus valores se inverteram. Inverteram-se tanto, que os seus escritos demonstram que ele quer que o mundo o decifre (e não o contrário). Inconscientemente, essa é a sua verdadeira busca.

sábado, 17 de julho de 2010

PÔR DO SOL DUAS VEZES

Eu estava com um grupo de pessoas, era de tardinha mas já escuro, já anoitecido. Então, subitamente, o céu clareou novamente e o sol começou a se pôr outra vez. Mas desta vez era algo mais belo que o normal. Pois todos sabiam: o sol se pôr duas vezes era algo que não acontecia todo dia. Era o habitual se transformando em fantástico.
Era lindo. As pessoas correram para ver essa maravilha. Porém, eu não pude. Minhas pernas me pareciam muito pesadas. Não conseguia andar. Me senti preso a alguma coisa desconhecida, invisível. Todos lá fora, de pé sobre o gramado assistindo ao segundo pôr do sol do dia. E eu cambaleando ao tentar andar, olhando para o chão e para minhas pernas quase estéreis, devorando minha consciência.
Entretanto, aquelas eram as MINHAS pernas. Eu realmente não podia culpar nada além de mim mesmo. Concluí também que no dia seguinte, se me fosse possível, eu não perderia a oportunidade de contemplar algo tão lindo como o pôr do sol, mesmo ele sendo o primeiro e único daquele dia que viria. Isso não faria dele menos belo, seria maravilhoso do mesmo jeito.