sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MADRUGADAS OPOSTAS

Meia-noite e trinta. Me reviro na cama sem conseguir dormir. O sono não vem, a mente não descansa. Na tentativa de impedir que insistentes pensamentos ruins me venham à mente, cubro a cabeça com meu travesseiro. Mesmo assim não consigo impedir o pensamento, pelo contrário, isso faz vir à tona, de que minha amada, a essa hora, não está com sua cabeça também repousada sobre seu travesseiro a dormir. E é tão ruim saber disso. É tão ruim saber que a madrugada dela será longa - ela tem muito o que viver durante essas horas - e já a minha, diferentemente, durará apenas o breve instante de um sono mal dormido.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

NOTAS DE UM QUASE-ESCRITOR EM BUSCA DE SI

Faz um tempo que tentava voltar a escrever. Procurava as palavras certas, é difícil encontrá-las em meio a tanta escuridão. Mas aos poucos vou descobrindo que não há palavras certas a escolher: são elas que me escolhem. Meu dever então se resume a dar-lhes vida e pô-las em relevo, lapidando cada uma delas até, juntas, formarem algo real. E é durante, e através dessa labuta que eu consigo me conhecer melhor.

A vida parece nos atropelar de modo que dificilmente encontramos tempo suficiente para nós mesmos. Aquele tempo necessário para vaguear por nossa alma. Transitar entre nossos infinitos universos íntimos. Mas, repito, aqui o tempo se faz necessário, bem como o silêncio da escuridão e a reflexão da solidão. São minutos e mais minutos até conseguirmos abrir nossas pesadas portas que preenchem a alma e todos os seus saguões. Acredito haver uma chave específica para cada porta dessas, e cada porta aberta leva-nos à uma descoberta sobre nós. Pode ser aquele segredo sobre si que nem você mesmo imaginaria existir, ou aquela recordação meio apagada pelo tempo, mas que ainda está viva em você.

Seguindo pelos caminhos tortuosos de nossa alma, somos invadidos pela sensação de que sempre estaremos perdidos dentro dela. Deveras não há solução, pois trata-se de um emaranhado impossível. Porém, a busca por novos caminhos a seguir é o que nos mantém vivos, e essa é a graça da viagem: não ter destino certo. O estado sublime de se deixar levar, sem preocupações.

Algumas das chaves que abrem as minhas portas são constituídas pela minha imaginação. Expressada por palavras combinadas que, de um modo quase mágico, vêm a mim, juntam-se (ou eu as junto), e revelam meus segredos. Minha alma então pode se metamorfosear. Ela é externada, materializa-se. Torna-se visível tanto para os outros, como para mim mesmo. Porque, se me é possível enxergar-me diante de um espelho, é através de meus escritos que consigo vislumbrar, de alguma forma, a minha alma como um todo. Assim eu continuo a percorrer por entre meus universos e, ao mesmo tempo, me conhecendo (ou seria re-conhecendo?) melhor. Enfim consigo me encontrar.
Volto-me novamente à minha busca pelas palavras certas. Insisto. No entanto, constato: realmente não tenho muita escolha. Quando me coloco a escrever, transcrevendo para o papel essas palavras que vêm até à mim, estou na realidade tentando aquietar o meu espírito. Mas se ele continuar confuso e sombrio, então meus escritos serão confusos e obscuros. Sem medo, sem restrições. Um reflexo fiel, uma viagem sem fim.