Apesar de sempre vê-la atrás daquele balcão, eu não a conheço
praticamente nada. É a distância da timidez. Da minha, com certeza, da dela, eu
já não sei.
Ontem, num raro momento oportuno me aproximei e lhe
falei. Mistura de palavras banais com frases soltas, apenas para tentar quebrar
barreiras e me fazer presente. No entanto, suas respostas eram secas, tanto quanto meus
comentários sem sentido. Sim, nosso diálogo fora confuso e entrecortado. Enquanto isso, seus olhos buscavam fugir dos meus por algum motivo desconhecido para mim.
Então, quando nosso contato já se encaminhava para o fim,
ela finalmente fixou seus negros olhos nos meus. Infelizmente não fui capaz de
identificar se foi um olhar de ódio ou desespero. Mas, sim, havia um brilho
neles.
Agora eu penso nisso. Talvez ela se sinta sozinha o
suficiente para que, com a minha despedida embaraçada, tenha realmente sentido
esses dois sentimentos ao mesmo tempo. Ou, quem sabe, eu esteja inteiramente
enganado, já que eu não a conheço mesmo. Somente sei do brilho enigmático do
seu olhar.
Por fim, acho que prefiro deixar tudo assim mesmo: ela
envolta num véu de mistérios para mim. Pelo menos por enquanto...