sexta-feira, 11 de julho de 2008

IF. SUMMER 68. FAT OLD SUN.

E a canção corria.
O seu pescoço, delicioso.
Aquelas marcas.
Aqueles beijos.

Com seu balanço
Eu passeava, beijava.
Naquelas curvas.
Aquela pele.

E este disco agora me lembra você.
Você então vem flutuando.
E eu viajo
Flutuando

segunda-feira, 7 de julho de 2008

ABISMOS SOLITÁRIOS

Sou casada. E há noites em que ele, meu marido, sai. Sem nenhum aviso, um mistério aonde vai. Eu finjo não acordar quando ele se levanta da cama de madrugada. Veste-se; vai ao banheiro; acende a luz da cozinha – posso até ouvir o clic do interruptor; apaga a luz; abre a porta e vai embora. Tudo furtivamente.
E fico eu na cama a imaginar. Imaginar aonde ele vai e o que vai fazer. Dentre outras coisas, imagino-me também o seguindo numa dessas madrugadas. Feita uma sombra. Aliás, sinto-me muitas vezes como uma sombra da vida dele. Eu sendo o seu passado, somente o passado. O presente, esse é recheado de passeios furtivos e solitários pela madrugada.
E fico eu na cama escutando a pouca movimentação da minha rua: três horas o caminhão de lixo passa. Em seguida, quarenta minutos depois, é o guardinha da rua quem passa – píííííííí pí – com seu apito. Emite um silvo longuíssimo, depois um breve. E aos poucos o som vai diminuindo, até ir-se embora. Vai-se embora assim como meu marido. O som do apito, ficando aos poucos moribundo, indo para longe vigiar outras ruas, me deixa tão mal; o sentimento de solidão me invade. Onde estará Roberto? Por quais calçadas anda?
O relógio de ponteiros a trabalhar ao lado da cama. Pousado numa mesinha em companhia do abajur, sonolento. O tempo não passa; ele não volta. Onde estará?
Quero espantar algo; quero encontrar algo; quero cantarolar. E, baixinho, sussurro como um canto, acompanhando o tic-tac do relógio: um-dois, um-dois.


Adoro andar. Principalmente na madrugada. Pois assim posso perambular tranqüilo pelas entranhas vazias – sem carros e pessoas indo e vindo – da cidade. Contemplo apenas seu esqueleto erguido: os prédios. Caminho pelo centro; chateio-me com as vitrines em demasia. É demais, um exagero.
O pior de tudo são os manequins em pé por detrás das vitrines. Todos eles a me observar. Não têm olhos, porém, certamente nem precisam, suas cabeças já vêem por si só. Vigiam-me enquanto ando. Como são horríveis! Detestáveis! Vou caminhando, vou caminhando; e eles parecem contar meus passos: um-dois, um-dois.