sexta-feira, 28 de junho de 2019

verme

O verme passeia na lua cheia procurando por comida para se resguardar da seca que chegará em breve. Mesmo sem olhos, se orienta pelo luar de uma noite iluminada, seguindo a orientação sublime de uma lógica sobrenatural para os limitados olhos humanos que nunca entenderam o que não veem. Passado e futuro se confundem misturados no presente.

Seu lar pode estar longe e seu desejo por viver o faz não desistir no frio da solidão. Mas ele ainda tem a Lua e seu brilho que reflete no solo devastado e transformado num cenário pós-humano. Permeando por entre o lixo tóxico de um mundo ultrapassado, procura por alimentos que um dia foram habitados por vidas em terra consumida. O ciclo universal que se repete como uma roda à caminho da luz que nunca se apagará. Essa é a esperança do verme que se alimenta dos mortos.


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INSPIRAÇÕES:

1. https://www.youtube.com/watch?v=M7kQbv4S8s8
2. https://outraspalavras.net/sem-categoria/os-ultra-ricos-preparam-um-mundo-pos-humano/
3. http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/567378-tecnologia-pode-criar-elite-de-super-humanos-e-massa-de-inuteis-diz-autor-de-best-seller
4. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575438-super-ricos-ficam-com-82-da-riqueza-gerada-no-mundo-em-2017-diz-estudo

terça-feira, 25 de junho de 2019

As Veias Abertas da América Latina


Um livro necessário para nos reconhecermos como latino-americanos, um povo multiétnico e rico por natureza. A América Latina é uma região que suporta séculos de exploração e derramamento de sangue de milhões dos seus habitantes (o maior genocídio da História foi o dos nossos indígenas) em nome do lucro de uma minoria. Mas o colonialismo permanece. Agora travestido de neoliberalismo, impondo seu controle econômico, político e social com a financeirização dos Estados, regido pelo Deus-Mercado como instrumento de dominação de interesses estrangeiros privados sobre as necessidades públicas nacionais. Destino cruel por termos uma herança que se tornou maldita: a riqueza natural das nossas terras e da nossa gente.

O saque que persiste desde o início ungido com o sacrifício do nosso povo: começou com o pau-brasil, passou pelo ouro, prata e estanho, e agora é a nossa mão de obra barata e ainda tantas outras riquezas naturais que sobraram. Nosso suor e sangue, assim como nossas terras, é investimento (estrangeiro) que se paga pouco e lucra muito. Até hoje nosso solo é destruído, nossa água contaminada e nossas matas devastadas, mantendo nosso presente e futuro engaiolados para sempre como eternos exportadores de commodities, o "celeiro" de um mundo desigual que depende da pobreza da maioria para o desenvolvimento e concentração de riqueza de pouquíssimos. A teoria da dependência revelando as causas do subdesenvolvimento latino-americano – ver Celso Furtado, Theotônio dos Santos e Raúl Prebisch.

E não devemos nos iludir, os interesses externos é estarmos para sempre aprisionados nessa condição subserviente, pois servimos a eles e disso deriva suas riquezas. Por isso a urgência de uma insurreição em nome da nossa plena autonomia e soberania. Um ato de verdadeira independência.

Conhecermos a nós mesmos e a nossa história, nos dá capacidade de corrigirmos nossa direção e vislumbrar um futuro possível. Um resgate à nossa identidade; um chamado para nos unirmos em defesa dos nossos próprios interesses latino-americanos. Sem mais intervenções externas, nós mesmos trilhando nosso próprio caminho.


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REFERÊNCIAS:

Genocídio indígena
1. https://www.brasildefato.com.br/node/10307/
2. https://salacristinageo.blogspot.com/2011/05/genocidio-indigena-no-brasil.html
3. https://noticias.r7.com/prisma/nosso-mundo/brasil-e-lider-disparado-no-genocidio-de-indios-na-america-latina-24042018

Financeirização da economia
1. http://www.usp.br/agen/?p=88247
2. https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-dinheiro-e-a-financeirizacao-da-economia-mundial/4/31520
3. http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n6/v12n6a09.pdf
4. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142017000100029
5. https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/financeiriza%C3%A7%C3%A3o
6. http://www.vermelho.org.br/noticia/26588-1
7. http://jornalismojunior.com.br/voce-sabe-o-que-e-o-processo-de-financeirizacao-da-economia/

Teoria da dependência
1. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141999000100018
2. https://revistapesquisa.fapesp.br/2018/08/20/teorias-para-o-desenvolvimento/
3. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1703200114.htm
4. https://movimentorevista.com.br/2018/02/a-teoria-da-dependencia-balancos-e-perspectivas-capitulo-ii/

Resenhas
1. http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-veias-abertas-da-america-latina-eduardo-galeano/
2. http://www.aescotilha.com.br/literatura/ponto-virgula/as-veias-abertas-da-america-latina-eduardo-galeano-resenha/
3. http://www.klepsidra.net/klepsidra5/america.html

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TRECHOS DO LIVRO:

"A divisão internacional do trabalho significa que alguns países se especializam em ganhar e outros em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se aventuraram pelos mares e lhe cravaram os dentes na garganta. Passaram-se os séculos e a América Latina aprimorou suas funções. Ela já não é o reino das maravilhas em que a realidade superava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus da conquista, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como serviçal, continua existindo para satisfazer as necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, de cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que, consumindo-os, ganham muito mais do que ganha a América Latina ao produzi-los."
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"Quanto mais liberdade se concede aos negócios, mais cárceres precisam ser construídos para aqueles que padecem com os negócios. Nossos sistemas de inquisidores e verdugos não funcionam apenas para o mercado externo dominante, também proporcionam caudalosos mananciais de lucros que fluem dos empréstimos e dos investimentos estrangeiros nos mercados internos dominados."
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“Já se ouviu falar de concessões feitas pela América Latina para o capital estrangeiro, mas não de concessões feitas pelos Estados Unidos para o capital de outros países (...). É que nós não fazemos concessões”, advertia o presidente norte-americano Woodrow Wilson, por volta de 1913. Ele estava convicto: “Um país”, dizia, “é possuído e dominado pelo capital que nele foi investido.”
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"É a América Latina, a região das veias abertas. Do descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos."
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"Para os que concebem a História como uma contenda, o atraso e a miséria da América Latina não são outra coisa senão o resultado de seu fracasso. Perdemos; outros ganharam. Mas aqueles que ganharam só puderam ganhar porque perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já foi dito, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial."
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"O capitalismo central pode dar-se ao luxo de criar seus próprios mitos e acreditar neles, mas mitos não se comem, bem sabem os países pobres que constituem o vasto capitalismo periférico."
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"Em fins de 1970, entre os 280 milhões de latino-americanos há 50 milhões de desempregados ou subempregados e cerca de 100 milhões de analfabetos. A metade dos latino-americanos vive amontoada em casebres insalubres."
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"O sistema é muito racional do ponto de vista de seus donos estrangeiros e de nossa burguesia comissionista, que vendeu a alma ao Diabo por um preço que deixaria Fausto envergonhado. Mas o sistema é tão irracional para todos os outros que, quanto mais se desenvolve, mais aguça seus desequilíbrios e tensões, suas candentes contradições. Até a industrialização, dependente e tardia, que comodamente coexiste com o latifúndio e as estruturas da desigualdade, contribui para semear o desemprego, em vez de ajudar a resolvê-lo; alastra-se a pobreza e se concentra a riqueza."
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"120 milhões de crianças se agitam no centro dessa tormenta. A população da América Latina cresce como nenhuma outra, em meio século triplicou com sobras. A cada minuto morre uma criança de doença ou de fome."
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"O sistema não previu este pequeno incômodo: o que sobra é gente. E gente se reproduz. Fazse o amor com entusiasmo e sem precauções. Cada vez resta mais gente à beira do caminho, sem trabalho no campo, onde o latifúndio reina com suas gigantescas terras improdutivas, e sem trabalho na cidade, onde reinam as máquinas: o sistema vomita homens."
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"São secretas as matanças da miséria na América Latina. A cada ano, silenciosamente, sem estrépito algum, explodem três bombas de Hiroshima sobre esses povos que têm o costume de sofrer de boca calada."
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"Em Washington já se suspeita que os povos pobres não prefiram ser pobres. Mas não se pode querer o fim sem querer os meios: aqueles que negam a libertação da América Latina negam também nosso único renascimento possível, e de passagem absolvem as estruturas em vigência. Os jovens se multiplicam, levantam-se, escutam: o que lhes oferece a voz do sistema? O sistema se expressa numa linguagem surreal: propõe evitar os nascimentos nessas terras vazias, opina que faltam capitais em países onde os capitais estão sobrando e são desperdiçados, chama de ajuda a ortopedia deformante dos empréstimos e a drenagem de riquezas que os investimentos estrangeiros provocam, convoca os latifundiários para fazer a reforma agrária e a oligarquia para pôr em prática a justiça social. A luta de classes não existe – decreta-se –, sobretudo por culpa dos agentes forâneos que a incitam, mas em troca existem as classes sociais, e à opressão de umas pelas outras dá-se o nome de estilo ocidental de vida. As expedições criminosas dos marines têm por objetivo restabelecer a ordem e a paz social, e as ditaduras submissas a Washington fundam nos cárceres o estado de direito e proíbem as greves e aniquilam os sindicatos para proteger a liberdade de trabalho."
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"Tudo nos é proibido, exceto cruzar os braços? A pobreza não está escrita nas estrelas, o subdesenvolvimento não é fruto de um obscuro desígnio de Deus. Correm anos de revolução, tempos de redenção. As classes dominantes põem as barbas de molho e, ao mesmo tempo, anunciam o inferno para todos. Em certo sentido, a direita tem razão quando se identifica com a tranquilidade e com a ordem. A ordem é a diuturna humilhação das maiorias, mas sempre é uma ordem – a tranquilidade de que a injustiça siga sendo injusta e a fome faminta. "
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"A águia de bronze do Maine, derrubada no dia da vitória da revolução cubana, jaz agora abandonada, com as asas partidas, sob um portal do bairro velho de Havana. De Cuba em diante, outros países também iniciaram por distintas vias e distintos meios a experiência de mudança: a perpetuação da atual ordem de coisas é a perpetuação do crime."
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"Por isto neste livro, que quer oferecer uma história da rapinagem e, ao mesmo tempo, mostrar como funcionam os mecanismos atuais da espoliação, aparecem os conquistadores nas caravelas e, ali perto, os tecnocratas nos jatos, Hernán Cortez e os fuzileiros navais, os corregedores do reino e as missões do Fundo Monetário Internacional, os dividendos dos traficantes de escravos e os lucros da General Motors. Também os heróis derrotados e as revoluções de nossos dias, as infâmias e as esperanças mortas e ressurrectas: os sacrifícios fecundos."