sábado, 9 de agosto de 2008

PASSAGEM

Às palavras é que escrevo. Às palavras é que peço desculpas. Quanto tempo elas me esperam ali, olhando para mim, esperando alguma ação minha. Todas embaralhadas, pedindo, implorando para serem postas em linhas retas, ou nem tão retas assim.
Estão ali, como estão lá naquelas montanhas longínquas do meu horizonte, e essas palavras, são apenas as quais meus olhos humanos conseguem ver. Olhos humanos: tão limitados, tão defeituosos, tão rebeldes, que nos mostram apenas o olhar viciado do dia-a-dia. Apresentam-nos uma vida encubada. Aquilo que não existe a olho nu é jogado para detrás das nuvens brancas que, quanto mais tempo passa, mais ficam volumosas, mais intransponíveis ainda.
Volto às palavras jogadas ali no canto. Nas minhas linhas tortas tento uma passagem para detrás das nuvens. Como pregos, usarei as palavras jogadas ali no canto para perfurar estes meus olhos viciados e nebulosos. E, mesmo cego, atravessar as nuvens, pois eu ainda confio nas palavras, mesmo elas estando tão embaralhadas.