quinta-feira, 23 de abril de 2015

um spectrum

Ainda que eu possa ser uma imagem fantástica de um morto, eu também sou luz. Não aos olhos dos transeuntes desse paralelo que não existo mais. Deles ainda não, mas seus dias hão de chegar também. Posso ser chamado de spectrum se preferir latim ou espectro marginal se tentar ser mais realista.

Eu sigo na escuridão, deslizando por ruas e sombras dessa cidade fria. Percorro-as invisível, ouvindo vozes, burburinhos e fragmentos de conversas dispersas. Penso se tudo isso é o resquício da minha memória quase apagada de uma vida já distante, ou se minha própria realidade é que nunca passara desses acasos estilhaçados. E que somente agora estou tentando remontar os cacos dos acontecimentos. Remontar a minha débil e tênue existência.

Ao vagar incerto, meus sentidos aguçados causam-me um turbilhão de sentimentos por segundo. Veloz demais para eu conseguir compreendê-los. Veloz demais ao ponto de romper as ondas por onde eu flutuo: como um anjo eu caio no chão. Um brilho em queda espiralando à sua volta, invisível ao seus olhos tão humanos. Numa frequência que você jamais enxergará em vida.
 
Mas seu momento igualmente está por vir. Pois, depois que seu tempo da matéria terminar, um spectrum, é o que você também será.

4 comentários:

Anônimo disse...

Alguém aí manjou a referência Lúcifer?
Luz-Anjo-Caído-Invisível

Anônimo disse...

lindo gostoso do meu lastfm <3

Anônimo disse...

Oi, adoro lastfm.

incoerenciamatinal disse...

bem bom o texto man!