segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

LA CHINOISE (1967) - GODARD




Fragmento de La Chinoise:
"A classe operária francesa não se unirá politicamente, nem irá às barricadas, por um aumento de 12% no salário.
No Futuro próximo, não haverá uma crise capitalista grande o suficiente que empurrem os trabalhadores a lutarem pelos seus interesses vitais através de uma greve geral revolucionária ou uma insurreição armada."


O filme inicia-se com as frases acima sendo lidas por um jovem francês. Ele é morador de um apartamento que divide com mais quatro pessoas. O apartamento é a moradia e a sede ao mesmo tempo de cinco integrantes de uma célula comunista recém criada por eles. Embasam-se todos na ideologia marxista-leninista.

O apartamento é repleto de pequenos livros vermelhos. Estudiosos desses livros, ao longo do filme lêem e declamam seus escritos. Diversas frases de caráter revolucionário são expostas dessa forma. Porém, dentro do apartamento mesmo está presente uma divisão de classes, contrariando as idéias comunistas. Não fica claro se os moradores têm consciência disso, parece algo natural, no entanto não deixa de ser contraditório. Há Yvonne, a "empregada" da casa, somente ela é vista trabalhando, limpando os móveis e lavando a louça. Parece que essa isenção dos outros integrantes nos afazeres domésticos, justifica-se pela superioridade intelectual deles perante Yvonne.

É de se chamar a atenção, uma frase dita no início do filme pelo casal "líder" do grupo: "Nós somos o discurso do outros". Assim, é sugerido um fanatismo cego. Há outra passagem constatando tal fanatismo.

Na cena, um participante recém expulso do grupo por não querer seguir uma decisão da célula (ato totalmente ditatorial), parece dar um depoimento sobre sua expulsão e sobre seus ex-camaradas. Todas as suas declarações não soam como vingativas ou rancorosas, apenas expõem suas opiniões. Ele é perguntado se os participantes do grupo eram infantis. Ele diz que sim, e conta uma história para tentar explicar.

É a história das crianças egípcias. Os egípcios acreditavam falar a linguagem dos deuses, e para provar isso, resolveram isolar algumas crianças recém-nascidas numa casa completamente alheia à sociedade. Eles queriam mostrar que as crianças aprenderiam a falar egípcio sozinhas. Então, após 15 anos eles voltam à casa. E o que vêem são as crianças se comunicando entre si, porém, balindo como ovelhas. Eles não notaram, mas havia uma baia de ovelhas próxima à casa.

Depois de contar a história, ele diz que naquele apartamento, para eles, o marxismo-leninismo era como a ovelha da história.
Essa declaração, se encaixa com a fala do início do filme: “Nós somos o discurso dos outros”. E serve também para provar a cegueira dos moradores do apartamento. Pois o marxismo-leninismo os vedava, privando-os de pensarem por si mesmos. Negando a realidade social, visto que eles quase nunca são vistos fora do apartamento. Efetivamente, eles não faziam parte da realidade.

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