Vivo no meu subsolo. Aqui vem se acumulando a poeira trazida pelo vento da superfície, sempre que você abre a porta e me convida pra sair - e eu digo não. Um rápido instante até eu voltar à solidão. Meu íntimo calabouço.
Desacostumado à atmosfera lá de fora, quase me sufoco ao respirar. Pois a poeira trazida pelo vento é algo externo que não faz parte desse meu habitat. Nem de mim. Assim insisto em querer acreditar.
E é engraçado como não cismo em tentar escapar. Em escavar minhas velhas angústias e ver o mar, em alcançar o solo e ver o sol. Eu troco os sabores da vida por um pouco de paz.
Aqui sobrevivo com pouco. Minhas débeis palavras jogadas no chão empoeirado, inertes e já sem significado, é o que me satisfazem e me alimentam no momento. Porém não me dão esperança. Procuro disfarçar.
Mas como você mesmo diz, todos nós somos feitos da poeira das estrelas: talvez essa mesma poeira que insiste em entrar por minha porta. Então são as vozes das estrelas me dizendo pra tentar, tirar-me do sossego. E me lembrar de que de fato viemos da mesma matéria estelar. Um resgate universal.
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