quinta-feira, 1 de maio de 2008

ZUMBIDOS DE BETONEIRA

Faz quantos anos, um e meio, dois já...? Não sei. Só sei que são em todas as manhãs que aquelas abelhas gigantes zumbem inimaginavelmente alto no lado de fora do meu apartamento. Estão sempre meio longe, no entanto parecem estar do meu lado. Aquele barulho ensurdecedor e ininterrupto adentra minha cabeça fazendo-a praticamente explodir.
Enquanto ainda insisto na cama tentando dormir, fico planejando. Planejo ataques aos abelhões com foguetes, mísseis, fuzis, pistolas, e até mesmo com facas. Imaginei-me com uma espada típica chinesa, entrando na mega-colméia ainda em construção deles, estraçalhando todos sem dó, fazendo-os sofrerem bastante antes de enfim matá-los. É claro que com isso não resolveria definitivamente a situação, mas a curto prazo resolveria, até que chegassem novos abelhões para continuarem a construção da mega-colméia ao lado do meu prédio.
Finalmente coloquei meus planos em prática. Tomei coragem e matei todos os abelhões. Fui implacável. O silêncio reina nas atuais manhãs. Contudo, agora é o silêncio que me atormenta. Meu ouvido fica apitando como se tivesse ouvido um barulho extremamente alto e constante por um longo tempo. E deveras ouvi! Por dois anos, ou um e meio.
Ao longo desse período instalou-se uma grande confusão no meu espírito. Sempre estive justificando-a pela aporrinhação das abelhas barulhentas. Porém o silêncio tem me sufocado tanto, que chego mesmo a zunir baixinho para mim, pra ver se assim consigo enfim dormir. Não adianta...
As coisas estão tão embaralhadas, que já não sei mais com o quê estou acostumado; se é com os ruídos ensurdecedores, ou se é com o silêncio sepulcral. Há momentos que minha própria cabeça encarrega-se de me responder, criando sons, os zunidos dos tais abelhões já falecidos. No entanto é minha própria cabeça também que se encarrega de instaurar tamanha confusão no meu espírito; ela teima em me persuadir de que eu de fato não matei uma mosca sequer, e que eu sequer tenho um apartamento, e que eu sequer existo! Traduz todos os meus sentimentos como imaginação minha.

Por hora, me questiono se realmente foi por causa das abelhas que não dormi durante esses dois anos, ou um ano e meio. Pois ainda não durmo! Qual o verdadeiro antídoto? Não sei.
Olhando para fora da minha janela, agora só vejo fumaça. Resquícios de vidas.

Um comentário:

Thaís disse...

Nossa cabeça/mente sempre faz confusão. É difícil de entende-las.