domingo, 27 de janeiro de 2008

Selvagem Urbano

Acredito que eu esteja por volta de uns vinte anos de idade. Nunca fiz nada de produtivo. Nunca mais sai do meu canto, e nem cultivo relacionamentos. Sou um rato tipo urbano. Um tipo, que mora numa caverna de concreto, e foge da luz do sol. Inevitavelmente fui obrigado a cultivar algumas amizades: morcegos. Em troca do meu sangue, proporcionavam-me companhia; uma companhia vazia e de desafeto. Apenas visávamos o lucro de cada um, da forma mais egoísta possível. Aprendi a língua deles.
Alguns pensamentos se afloram: se acaso eu venha a rever pessoas, conseguirei estabelecer alguma comunicação? E meus modos, ainda são de um ser humano? Não sei, nunca mais vi nenhum.
Agora, mandei tudo à merda. Estou aqui, me embriagando, servindo-me da sangria dos morcegos. Estou bebendo meu próprio sangue por tabela. Tudo o que eles consumiram, eu consumo agora. Não reconheço meu sabor, nem mesmo aprecio este momento. E muito menos sinto-me feliz. Sou um sobrevivente. Sobrevivendo e vivendo à custa do meu próprio sangue.
Às vezes fico pensando, se lá fora, as pessoas não fazem o mesmo que eu para sobreviver. Como será que anda a sociedade? Muito progresso deve ter havido durante esse tempo em que estou recluso. Sou um selvagem agora. Não me adequaria ao mundo civilizado e organizado outra vez.
Selvagem é o que sou hoje. Selvagem urbano.

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