quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sonho

Tudo em meus sonhos não são coisas exatas e nem definidas, posso me encontrar num certo local, e logo em seguida já em outro. Ou talvez, o certo lugar pode estar me proporcionando conforto e alegria, porém instantes depois, angústia e desespero. Acredito que com todos ocorram as mesmas coisas. A seguir, irei (tentar) descrever um sonho que tive, incrementando alguns contextos. Talvez não obtenha um sucesso quanto à fidelidade dos lugares, das pessoas e da cronologia dos fatos. Mesmo assim, pode resultar numa história interessante – ou não! Portanto, buscarei ser mais fiel do que coerente. Aliás, todos sabem: nos sonhos quase nada nos parece ter sentido à primeira vista.

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Eu havia feito uma viagem, estava na praia com meus pais, num apartamento desconhecido. Necessitávamos de dinheiro para nos sustentar ali. Todos haviam abandonado suas ocupações antigas.
Encontramos uma alternativa para nossa subsistência, aparentemente conseguindo certo sucesso com essa nova empreitada: cuidávamos de crianças, tomávamos conta delas por dias a fio ou, até mesmo, meses.
Aos poucos, esses serviços vinham se tornando um negócio sério. Porém, mesmo assim, o local que usávamos era o nosso próprio apartamento – apertado e incômodo.
Via crianças chorando, babando, gritando, engatinhando, batendo os pés. Minha casa havia se tornado completamente numa creche, a qual mais se parecia com um hospício-mirim. Para aumentar mais ainda essa sensação de desconforto, meu plano de vista era da mesma altura da dos bebês, não os via por cima, mas olhos nos olhos. Sentia-me como um deles, espalhados pelo carpe.
Um pressentimento de que as coisas estavam saindo do controle invadia-me ao olhar para aquela confusão de crianças. Um dia, minha mãe pediu-me para cuidar especialmente de um bebê, pois estava extremamente ocupada em outro cômodo da casa (agora o apartamento não me parecia tão pequeno, e sim grande e sombrio, com cômodos ainda desconhecidos para mim). Eu acatei sua ordem, e fiquei vigiando o bebê. Então, por uma distração minha, a criança – muito ativa por sinal – desapareceu do meu campo de vista. No entanto, eu sabia que ela tinha ido para um corredor escuro, o qual me era totalmente desconhecido, mesmo sendo dentro da minha própria casa.
Eu corri atrás dela. Entrei no corredor escuro, e fui acabar num quarto que tinha uma janela que ia até o chão. Estávamos no térreo. Eu vi a criança passar pela janela, então fui desesperadamente atrás dela. Não podia estragar com o nosso sustento, seria suicídio. Para aumentar ainda mais minha aflição, fui parar numa calçada cheia de pessoas, via só suas pernas, esse era meu campo de visão. E nada de encontrar o bebê. Procurava em vão.
De repente, senti que todos me olhavam, num tom de reprovação e censura. Não havia percebido, mas eu estava nu. Senti-me profundamente envergonhado, e me esqueci completamente da minha missão, a qual me tinha feito sair para a calçada daquele modo.
Instante depois, parecia-me que haviam se passado anos, o bebê ainda desaparecido – na verdade, sentia que ele era o carrasco; o responsável pela desgraça a qual eu estava passando. Eu ainda permanecia parcialmente despido. Apenas uns trapos cobriam-me o corpo. Estava imundo e sem esperanças de voltar a ver minha família.
Lampejos de lugares invadiram minha mente: supermercados, hotéis, campos de futebol de cimento, ruas asfaltadas vazias. Por fim, acabei num terraço de um prédio.
Via de cima do prédio as outras pessoas com suas vidas: moleques jogavam bola lá embaixo num campinho, pássaros voavam livremente, velhinhos sorridentes carregavam sacolas do supermercado, guardas com uniformes azuis observavam os transeuntes. Todos pareciam zombar da minha desgraça repentina e ao mesmo tempo duradoura. Tinha a sensação de que tive tudo e perdi num breve instante.

ACORDEI.

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