sábado, 22 de dezembro de 2007

O Coveiro

Sua ocupação nunca o incomodara. Ser coveiro, pensava ele, não era tão mal assim, era algo corriqueiro. Incumbido em selar o destino da vida das pessoas, realizava-o com certa apatia. Com o olhar sempre vago fazia a cova. Com habilidade, devido à experiência, transportava o caixão.
Ao acabar o dia de trabalho, chegava em casa com o jantar sempre a sua espera. O aroma da comida o saudava, assim como os beijos de sua esposa resignada.
Naquela noite, havia frango assado para o jantar. O coveiro, habituado a observar algo vivo ou morto imaginando-o num caixão, analisa o frango, deitado de pernas abertas na sua frente, calculando o tamanho de sua respectiva cova. Não suporta mais a idéia de simplesmente comê-lo, deveria enterrá-lo devidamente. Com uma desculpa barata, conseguiu recolher o frango intacto para sua missão.
Na madrugada, sob a luz do luar e sobre a terra úmida, realizou sua tarefa. Juntamente com os cadáveres, também enterrava sua essência humana. Desprovido de qualquer sentimento; indiferente; apático e obstinado. Era apenas um coveiro, um ser quase que invisível, daquele o qual todos procuram adiar a necessidade de seus serviços.

Um comentário:

Unknown disse...

hum...
as veses a gente se parece tanto com esse coveiro...