sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O Teatro

Sem pensar, eu vou até a porta verificar se a tranquei. No momento seguinte, me pergunto: por quê? Se me levassem tudo, não me importaria. Afinal, importo-me por algo? Neste mundo frio e artificial, algo realmente importa? Meu pessimismo é realista? E aquela porta abre-me o quê?
É a porta de entrada para o Teatro.
No camarim, inúmeros espelhos. Mas, não tanto quanto máscaras e maquiagem.
No teatro, espectadores exigentes, infelizes, e cegos – com os olhos costurados. Suas bocas emitem freneticamente palavras desconexas, grunhidos agudos. Gritam gritam e gritam, num frenesi diabólico. As costuras dos olhos estouram. Porém, não são olhos que emergem, e sim mais bocas. E, os gritos se multiplicam. As centenas de vozes tornam-se ensurdecedoras e insuportáveis, ao ponto de os espectadores não terem consciência do barulho produzido. Não são mais espectadores, esqueceram-se do espetáculo, ofuscado por seus gritos. Falando bem a verdade, as cortinas até então, não haviam nem sido levantadas.
Pensando melhor, é bom eu ir ver se tranquei bem a porta.

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